quinta-feira, 1 de maio de 2025

Trabalho, dignidade em ação



Algumas coisas acontecem na nossa vida para revelar quem de fato somos, como reagimos no dia da adversidade e, igualmente, revelar quem são as pessoas do nosso convívio. Coisas ruins trazem a didática perfeita para nos confrontar, fazer nossos medos virem à tona para tratá-los, quebrar nosso orgulho ainda não trabalhado, aliviar nosso ponto de contato com a sabedoria vinda de Deus quando já a temos. Coisas boas fazem a gente se sentir feliz, realizado, desejosos de compartilhar com nossos amigos, seja para dividir o ganho ou até mesmo para demonstrar o quão importantes somos; ostentar, né? Mas quem quer divulgar as perdas, hein?

Entre 2000 a 2001 eu era empresária na minha cidade, Campina Grande, Paraíba. O ramo de atuação era escola de informática, bastante promissor à época; mercado que já atuava desde 1998. Eu não tinha formação universitária na área, e embora tivesse cursos profissionalizantes para poder transmitir conhecimento, além de uma boa desenvoltura/didática para ensinar, meu desejo era formação superior. A escola funcionava todos os dias nos três expediente e também aos sábados, e se fosse aberta aos domingos, como era na escola onde trabalhava antes de ter a minha própria, haveria aluno também. Ou seja, não me sobrava tempo para mais nada a não ser dar aulas, trabalhar.


O local onde a escola funcionava era um prédio empresarial bem localizado na cidade. Haviam empresários de outras áreas, profissionais liberais que tinham salas no mesmo local, pessoas queridas que dividiam o empresarial comigo e nossa equipe de trabalho. Fiz amizade com a dona do prédio e sua família e muitos dos que ali trabalhavam, foi um tempo muito bom e de bastante crescimento (agradeço demais a Deus pela equipe que trabalhava e por sua importância para mim!). Porém, no ano de 2001 passamos por uma crise e a escola teve que ser fechada. Um dos motivos foi uma parceria feita com um órgão público que não cumpriu sua parte no acordo em tempo hábil. Os dias e horários reservados para os alunos, funcionários públicos oriundos desse setor, ficaram vagos e o prejuízo veio imediatamente. Obviamente, minha pouca experiência com negócios foi determinante nesse caso, não tinha elaborado nenhum plano de contingência caso algo do tipo acontecesse.


Mas o que me estava reservado era algo maior, mais desafiador, que requereria mais de meu brio, das minhas emoções, da minha psique. Após o fechamento da escola e de resolver toda a burocracia que isso demandou, lembro-me bem que precisei deixar alguns equipamentos em uma sala vazia do prédio por algum tempo. Como não estava em condições financeiras para alugar a sala, fiz uma permuta de serviço com a dona: enquanto meus equipamentos  estivessem lá e nenhum inquilino locasse o lugar, eu faria a limpeza da área social do prédio como forma de pagamento da sala. Isso mesmo, passei uns dois ou três meses fazendo a limpeza uma vez por semana do prédio onde fui empresária! Havia o zelador, mas um dia por semana ele não ia (acho que às sextas, agora não lembro ao certo) e eu fazia a limpeza com resignação. 


Certa vez, um colega empresário chegou para trabalhar e me viu zelando o prédio. Falei com ele como de costume e continuei o serviço. Lembro-me do choque que ele teve e sua reação. Lembro-me também de sua abordagem teológica ao me ver naquela situação: foi visível as lágrimas em seus olhos, a decepção estampada em seu rosto e sua compaixão por mim. Conversamos um pouquinho no local e citei os textos bíblicos que davam fundamentação teórica para tentar confortá-lo no momento. Confesso que não esperava aquela reação dele, especialmente porque o argumento teológico que ele usou foi que, em síntese, como filha de Deus não poderia aceitar uma “derrota”.  Porém, eu tentei mostrar-lhe que racionalmente estava sendo prática resolvendo com a força do meu trabalho uma questão financeira, assim como também havia pago uma dívida com o que tinha de mais moderno em loja (ainda bem que foi a familiares), e que ao contrário de derrotada estava era grata por ter conseguido a sala para meus outros equipamentos por um preço bem baixo. E teologicamente meu argumento foi Paulo e sua carta aos Filipenses 4


¹¹ já aprendi a contentar-me com o que tenho.

¹² Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade.
¹³ Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece. 

Ao final da conversa, graças a Deus, nós dois saímos reconfortados pelo Espírito Santo. Não foi fácil para mim encarar alguns olhares reprovadores e julgadores, principalmente, porque estava ainda sem entender direito meus sentimentos. Mas a fé em Jesus e em Seu testemunho escrito na Bíblia me davam forças para superar tudo aquilo e prosseguir. De alguma maneira eu sabia que no plano espiritual tudo aquilo tinha um propósito de ser, e me serviria de experiência para outros enfrentamentos no futuro. Vale lembrar, que eu era nova convertida, tinha apenas meses que havia me tornado discípula de Jesus. Ah, trabalhei também como vendedora na Terral, uma loja de roupas que ficava ao lado do prédio da escola de informática.


E foi a partir dessa capacidade que Deus me deu de trabalhar em várias áreas, de enfrentamento da vida, de coragem para lutar, e sobretudo de um cérebro ávido por aprendizagem, pela verdade do que significa a vida, que dois anos depois tive a oportunidade de parar de trabalhar para estudar. Fazer o curso superior que tanto almejava. Fiz logo dois vestibulares, um para Computação na UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) e Engenharia Civil na UFCG (Universidade Federal de Campina Grande). Passei em ambos, cursei os dois simultaneamente e os concluí, por bondade de Deus. Não me pergunte como consegui esse feito, que eu mesma não sei. Mas quem estudou comigo sabe o quanto eu era focada e amava estudar; amo! Aliás, esse blog foi criado fruto de uma disciplina do curso de Computação.


Você que está lendo esse texto e acha que sua situação não tem mais jeito, que tudo está perdido, se sente humilhado(a), que sua missão aqui nessa vida acabou, por favor me escute: você já fez o seu papel e está sem forças, já se esforçou o suficiente, lutou demais e por muito tempo? Eu quero te dizer que antes de passar e cursar os dois cursos universitários dos meus sonhos, eu havia parado de estudar por uma tragédia pessoal que me aconteceu logo depois que concluí o ensino médio com êxito! Eu não tinha mais esperança em voltar a estudar, aliás eu saí, inclusive, de minha cidade e fui embora desesperada. Mas quem me permitiu ir e vir, passar por tudo que passei, me trouxe de volta para fazer aquilo que Ele mesmo me deu por missão: testemunhar de Jesus Cristo por onde quer que fosse e seja lá o que fizesse, sob qualquer circunstância da vida. Porque Deus é Deus que efetua em vós tanto o querer como o realizar segundo sua boa vontade (Filipenses 2:13). Tudo é sobre Ele.


Lembre-se, não é tua função que te define, se empresário(a) ou zelador(a), não é tua formação, nem tuas posses, nem mesmo a falta delas. O que te define é o Sacrifício do Deus vivo que morreu na cruz do calvário e ressuscitou por ti. É a tua confissão consciente na crença do Filho de Deus. É Jesus quem te justifica, é Ele que sabe o que contém em teu coração, tua intenção, tua vontade de acertar e vencer, independente da aprovação dos outros ou não. Busque o entendimento pessoal do que está escrito sobre o Filho de Deus: O porquê Ele nasceu de forma tão humilde e até humilhante aos olhos dos homens, mas no plano espiritual havia um coral de anjos cantando para a majestade do Deus que veio como homem à terra. Aprenda o porquê Jesus morreu na cruz e tantos ressurgiram dos mortos com sua ressurreição também. Foi unânime a morte de Jesus na cruz; todos viram. A negação de sua ressurreição só se deu por parte de quem quis omitir que Ele fosse o Messias prometido; conveniente não é? Portanto, basta honestidade intelectual para se fazer uma pesquisa e revisitar o acervo bibliográfico ao longo da história e esclarecer qualquer dúvida que você tenha. Chegue à sua própria conclusão racional e espiritual. Alguns fizeram isso, como Josh McDowell, por exemplo. Ele tentou provar que a ressurreição de Jesus Cristo não havia acontecido e se deparou com muitas provas documentais importantes.


Permaneça de cabeça erguida, caro leitor. Independente do seu trabalho, função, ou cargo, o mais importante da vida é sua identidade em Deus, sua dignidade em executar qualquer missão que lhe chegar às mãos para fazer. Faça com amor, destreza, dedicação e alegria. Sua principal recompensa vem de Deus, provedor de todas as emoções e sentimento que satisfazem o ser humano. E assim você poderá dizer verdadeiramente: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”. Por isso digo sempre: somos filhos de Deus que eventualmente realizamos alguma função.


Feliz dia do trabalho de 2025.


Simone Silva.